Ponto (quase) final
The end.
ba.du.la.que s. m. 1. (...). 2. Bagatela. 3. Coisa miúda e de pouco valor. 4. (...)o. S. m. pl. Trastes de pouco valor. [Re]descobrindo-me!
“Hoje vocês têm uma obrigação a mais. Todos os brasileiros envolvidos no Pan estão de luto. Atletas, dirigentes e voluntários... Mas a função da equipe de STS (Suporte ao Espectador) é sorrir e fazer sorrir, e mesmo de luto, representar a alegria da vida de todos os que estão tristes e hoje lembrar as pessoas que todo dia é dia de comemorar o simples fato de estarmos vivos!”
(Coordenadora da Equipe de Voluntários do Pan Rio 2007 para os voluntários em 18/07)
Assisti paralisada todas as imagens. Chorei ao ver o desespero das pessoas. Passei o dia entre a tristeza de acompanhar as notícias e as alegrias das medalhas conquistadas pelos nossos atletas no Pan. Cheguei a me sentir culpada por isso...
E fico imaginando quando que todos os poderosos que estão por trás disso (sim, eu acho que há algo muito maior por trás de todo o caos aéreo brasileiro) vão se dar conta que estamos falando de seres humanos; de, pelo menos, 350 mortos nos últimos 10 meses em tragédias aéreas. Quando irão responder às nossas perguntas? Quando irão nos explicar o porquê da liberação de uma pista de pouso que não estava com sua reforma acabada? Quando o Presidente da Infraero, da Anac, engenheiros e a puta que o pariu serão afastados até que se saiba realmente o envolvimento deles nessa falta de respeito e descaso com o cidadão que paga caro para chegar mais rápido ao seu destino a fim de encontrar quem se ama, a fim de matar a saudade, a fim de descansar mais cedo do dia puxado de trabalho, a fim de fazer uma surpresa...?
Quem vai dar uma explicação que seja para a mãe que estava esperando os dois filhos adolescentes chegarem? Qual deles vai dar um abraço que seja no marido que perdeu a mulher grávida de 4 meses? Qual deles vai fazer uma ligação para uma mulher e dizer que sente muito por ela ter perdido a mãe e os dois filhos? Qual deles vai doar um pouco do seu tempo à mulher que não vai mais ter o marido chegando mais cedo em casa como prometera? Quem vai dar ombro aos amigos que perderam seus melhores amigos? Quem será que vai deixar de ficar com a família na quarta-feira à noite depois da novela das 8h para ir ao estádio Olímpico ver o clássico GreNal com o pai que perdeu sua filha, companheira mais que presente em todos os jogos com ele? Quem vai fazer uma visita à minha tia só pra dizer “e aí, como tá a vida?”? Alguém se importa, afinal?
Tenho a sensação de que estamos entregues à sorte. Que Deus tome conte da gente! Que Deus tome conta das dores. Que alguém tome uma providência urgente.
Continuo torcendo pro Pan. Atletas que batalharam uma vida inteira pra competições como essa. Eu torço como seu fossem ‘meus’. Esporte me motiva, me emociona. Como não se emocionar com o Diogo que ganhando R$ 600,00 mensais investiu do próprio bolso mais de R$ 5.000,00 para se preparar para estar nessa competição? Como não vibrar com a relação de mãe e filho do nosso nadador Thiago com sua torcedora mais ilustre? Como não bater palmas para a seleção de Bernardinho? Como não se emocionar com a menina Jade? Bronze no badminton?! E você lá sabe o que é isso?! Eu nem sei como consigo dizer isso, mas a verdade é que a vida continua. A verdade é que o luto e tristeza não podem nos impedir de respeitar cada luta brasileira representada no Pan pelos nossos brasileiros.
Nunca deixe de dizer ‘eu te amo’. Não esqueçam de se despedir com um beijo ao saírem de casa. Não deixem de agradecer ao colega de trabalho pela ajuda dispensada durante o dia. Não deixem de agradecer a Deus pelo sol e pela chuva. Não deixem de agradecer a Deus pela casa e pelo alimento. Não deixem de dar graças por ter chegado atrasado e perdido o ônibus. Não deixe de saborear um prato de arroz com feijão da vovó com o mesmo prazer que degustaria o mais belo prato da culinária de um grande chef. Ouça a música que você mais gosta no volume mais alto sem se importar com o que as pessoas vão pensar. Dance como se ninguém estivesse olhando. Ame como se nunca tivesse se machucado. Se tiver vontade de gritar, grite! Nunca se sabe o que vai acontecer alguns metros ou minutos na frente. Nunca se sabe se teremos uma nova oportunidade. Celebre a vida!
Os brasileiros de bem vivem nesse momento um misto de sentimentos. Não se culpem. Vivam! Torçam! Vibrem! Se emocionem! E não se esqueçam de fazer uma prece por todos que sentem agora a dor da perda. E não to falando dos atletas não-medalhistas do Pan...
Luz e sorte a todos! Deus nos proteja!
Mari, eta badulaque!